Internação evitável
O que é?
Internação evitável é uma adaptação do termo usado na gestão de sistemas de saúde, a internação por condição sensível à atenção primária, “um conjunto de problemas de saúde para os quais a efetiva ação da atenção primária [pode diminuir] o risco de internações. Essas atividades, como a prevenção de doenças, o diagnóstico e o tratamento precoce de patologias agudas, o controle e acompanhamento de patologias crônicas, devem ter como consequência a redução das internações hospitalares por esses problemas” (Alfradique, 2009). É um indicador constituído por um rol de diagnósticos de doenças, como as infecciosas preveníveis por meio de imunização (sarampo, tétano e difteria, entre outras), complicações atenuáveis por meio de diagnóstico e tratamento precoces (como gastroenterites), não transmissíveis (por exemplo, coma diabético), entre outras (HOMAR. MATUTANO, 2003).
O termo surgiu nos anos 90 como consequência do indicador “mortes evitáveis” (Alfradique, 2009), vem sendo utilizado como indicador indireto (proxy) da eficácia da atenção primária à saúde. Em 2007 o Brasil estabeleceu a lista de doenças adotando como parâmetros: (1) existir evidência científica que a causa de internação é sensível à atenção primária à saúde; (2) ser uma condição de fácil diagnóstico; (3) ser um problema de saúde “importante” (ou seja, não ser evento raro); (4) ser uma condição para a qual a atenção primária à saúde teria capacidade de resolver o problema e/ou prevenir as complicações que levam à hospitalização; (5) haver necessidade de hospitalização quando a condição estiver presente; (6) o diagnóstico não é induzido por incentivos financeiros.
Um indicador pode ser direto ou indireto, na linguagem técnica o segundo é chamado de proxy, necessário quando o fenômeno não é mensurável diretamente, mas pelos seus efeitos. Um indicador pode ser mais ou menos robusto, específico ou genérico. A avaliação de situações complexas melhora quando há vários indicadores simultâneos (o índice de desenvolvimento humanos – IDH – por exemplo, é composto pela renda, acesso à educação formal e aos serviços de saúde). A internação sensível à atenção primária é uma proxy da qualidade da atenção primária e dos benefícios que produz para a saúde.
Há 120 tipos de doenças (categorizadas pela Classificação Internacional de Doenças – CID), excluídas as doenças mentais e partos, cujas internações podem ser reduzidas pela atenção primária à saúde, de acordo com a Secretaria de Atenção Básica do Ministério da Saúde. A intensificação da atenção primária produz redução principalmente nas internações evitáveis por insuficiência cardíaca e diabetes mellitus.
A prescrição de medicamentos finaliza a maioria das consultas médicas no âmbito da atenção primária, pode estar presente em até 80% delas, dependendo do contexto, e 75% das consultas a médicos de família e clínico geral estão associados à continuidade ou início do uso de medicamentos. Nesse contexto, os medicamentos são a principal forma de resolver os problemas de saúde (Estado do Rio Grande do Sul. Material pedagógico da Universidade Aberta do SUS – UNA/SUS – UNIFESP, 2020).
A internação por causas evitáveis e o rol de doenças é um tema controverso (HOMAR. MATUTANO, 2003) Há que considera a alegação de causas de hospitalização além da atuação da assistência primária como a importância das características do paciente, variações na prática clínica e hospitalar e regras de triagem dos pacientes (Borrás, 1994).
Todo indicador tem na origem uma escolha, como é o caso da internação por causas sensíveis à atenção primária ao estabelecer as doenças que o constituem. No Brasil o indicador foi construído ao longo de dois anos de discussões e elaboração de consenso científico, processo recomendado para conferir robustez.
À medida em que a dimensão coletiva da saúde individual se solidifica, os indicadores de eficácia dos equipamentos e sistemas de saúde – estatais e privados – vão se tornando imprescindíveis na gestão dos recursos que se proponha eficaz. Estudos mostram a importância dos medicamentos na atenção primária (Alfradique, 2009. Mafra, 2011), assim não se concebe a última sem as medidas para o acesso necessário e racional dos primeiros.
Referências
ALFRADIQUE, Maria E. e outros. Internações por condições sensíveis à atenção primária: a construção da lista brasileira como ferramenta para medir o desempenho do sistema de saúde (Projeto ICSAP – Brasil). Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 25(6):1337-1349, jun. 2009
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos. Departamento de Assistência Farmacêutica e Insumos Estratégicos. Uso de Medicamentos e Medicalização da Vida: recomendações e estratégias. [recurso eletrônico] Brasília: Ministério da Saúde 2018.
MAFRA, Fábio. O impacto da atenção básica em saúde em indicadores de internação hospitalar no Brasil. Dissertação de mestrado. Universidade Nacional de Brasília. 2011.
BORRÁS J. M. La utilización de los servicios sanitarios. Gac Sanit, 1994:8:30-49.
Saiba mais!
ISSBERNER, Lis-Rejane. Indicadores de ciência, tecnologia e inovação para que? XI Encontro Nacional em Ciência da Informação. Rio de Janeiro, 2010.
MARQUEZE, Elaine C. MORENO, Claudia R. C. Satisfação no trabalho – uma breve revisão. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, São Paulo, 30 (112): 69-79, 2005